Agricultura


Suinocultor com oito mil matrizes alavanca VBP de pequeno município do Paraná

Jorge Rambo e família geram emprego e renda para diversas famílias de município de quatro mil habitantes
31/01/2020 O Presente Rural

A história do suinocultor Jorge Foellmer Rambo na atividade se confunde com a própria história da família. Desde muito pequeno já ouvia o pai falando da importância da atividade para o sustento da casa. Ainda menino, foi o “escolhido” entre cinco irmãos para o ser parteiro da propriedade. “Eu era um menino bastante magro, e com isso o pai logo me adotou como o parteiro. Quando uma porca não conseguia fazer o parto ele dizia que eu tinha que tirar o leitão, fazer uma intervenção”, lembra.

Foi ali, ainda menino, que surgiu em Rambo o amor pela profissão de suinocultor. “Desde pequeno eu ouvia meu pai falar que tínhamos que ter suínos para ter renda quando a safra de grãos não era boa”, lembra. “E fazendo o serviço você começa a pegar gosto pela coisa”, afirma. Dessa forma, a atividade sempre foi algo que chamou a atenção do suinocultor. “O meu pai e meus irmãos gostavam mais da agricultura. Mas eu sempre via que quando dava zebra, tínhamos os suínos para vender e assim ter renda”, lembra.

A família era de Itapiranga, Extremo-oeste de Santa Catarina, mas se mudaram quando Rambo ainda era menino para o Paraná. “Meu pai era um pequeno suinocultor. Ele tinha umas 30 ou 40 matrizes. Mesmo assim ele conseguiu vários prêmios como produtor exemplar, já que éramos associados da (Cooperativa) Copagril na época”, diz. Ele lembra que a família escolheu Entre Rios do Oeste, no Oeste do Paraná, para morar porque também os avós maternos e tios se mudaram do Estado vizinho para o município de quase quatro mil habitantes. “Foi assim que foi feita, inclusive, a colonização do Oeste do Estado. Famílias vindas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul que vieram construir suas histórias”, conta.

Atualmente, o suinocultor possui oito mil matrizes próprias e entrega aproximadamente seis mil suínos gordos por semana. Números significativos para uma cidade tão pequena, mas que são importantes para todos que moram lá. De acordo com o levantamento do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, o Valor Bruto da Produção Rural de 2018 do município foi, em sua maioria, vinda da suinocultura. Dos R$ 210 milhões, 38% foram oriundos de suínos de corte e 17% de suínos para recria. É o valor mais representativo em VBP Agropecuário de todo o Paraná.

Além disso, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2018 a região Sul concentrou quase metade dos suínos do país: 49,7%. Santa Catarina foi responsável por 19,2% do total nacional, o Paraná por 16,6% e o Rio Grande do Sul por 13,8%. Foram ainda estimadas a existência de 4,8 milhões de matrizes de suínos – o que significa que, do efetivo total de suínos (41,4 milhões), 11,6% corresponderam a matrizes (aumento de 1,5% em relação a 2017), tendo essa criação também destaque na região Sul, onde se encontravam 42,2% desse efetivo.

Da integração para independente 

Rambo lembra que, no passado, quando o fomento das cooperativas começou, era interessante fazer parte. “Porque todo o concentrado você retirava do lote, integração. E quando você entregava o suíno você pagava aquela ração. Na época da inflação, a margem chegava a dar 30 ou 40%. O lucro era enorme para quem trabalhava bem”, comenta.

O suinocultor se formou técnico agropecuário e continuou administrando o negócio de suínos da família. “Então, lá pelos anos 1990 nós estávamos vendendo os suínos que engordávamos para a Frimesa. Na época tínhamos o ciclo completo. Assim começamos um projeto com a Sadia de fazer uma UPL para 300 matrizes. O recurso era pouco. Me lembro que foi financiado para oito anos pelo Banco Real via Sadia e ficamos com essa granja de 50 matrizes onde a gente entregava o suíno para a cooperativa”, recorda.

“Como todo estudante, tinha sempre muitas ideias, e sempre dizia para o meu pai que tínhamos que avançar e o nosso desconto estava muito alto na cooperativa, porque a gente pagava fundo rural, quota capital e outras coisas. Eu dizia que de cada 100 suínos, o sistema ficava com quase seis, e isso é muito”, conta. Dessa forma, a ideia foi começar a trabalhar de forma independente. “A suinocultura é algo de altos e baixos. Então, eu vejo que um dos segredos do setor é trabalhar essas oscilações. Elas são constantes e podem ser fatais. Tanto que éramos milhares de suinocultores independentes no país, mas agora não são tantos quanto antes. Seria muito importante que ainda hoje fossemos muitos, e não algo concentrado nas mãos de poucos”, comenta.

Produção de sucesso

De acordo com Rambo, o sucesso da propriedade se confunde com a parceira que existe entre eles e o grupo Friella. “Somos parceiros há 15 anos. No início éramos pequenos, entregávamos um volume de 40 a 70 suínos por semana. Mas crescemos e hoje continuamos avançando, e sempre parceiros”, afirma.

O suinocultor informa que além da produção que ele tem na sua propriedade, há ainda mais de 120 granjas terceirizadas que trabalham com ele. “Na verdade, é um pequeno fomento que a gente tem. Temos produtores em oito municípios, onde temos produtores que fazem a terminação dos suínos dos nossos leitões”, diz.

Ele explica que ele possui aproximadamente oito mil matrizes e que faz o ciclo completo, além de comprar mais um volume razoável de leitões. “São pouco mais de dois mil leitões por semana, e isso a gente leva, boa parte, nas granjas terceirizadas”, explica. De acordo com Rambo, nas 120 granjas terceirizadas é oferecido por ele toda a assistência técnica e veterinária, já que eles têm um quadro com três médicos veterinários, além de toda a medicação e nutrição. “É bastante parecido com um sistema de fomento”, completa.

Negócio familiar

Rambo explica que até 2011 eles eram um grupo familiar. “Mas agora cada um está em uma cidade diferente. Um irmão está no Paraguai, outro no Mato Grosso e outro no Pará. A suinocultura, na verdade, antigamente era o que bancava todo o sistema, era o que dava a renda e ajudava. Mas em 2011 um dos meus irmãos faleceu e mais tarde foi o meu pai. Então nós nos separamos”, lembra. O suinocultor recorda que lamentou muito na época porque nenhum de seus irmãos quis ser sócio na suinocultura. “Eu tinha medo por conta desses altos e baixos e não planto lavoura. Então, de 2013 para cá nós direcionamos todo o foco no setor de suínos. Então o negócio começou a andar bem”, explica.

Como Rambo comentou, a suinocultura é de altos e baixos. Ele lembra que 2014 foi um ano péssimo para o setor. “Tivemos um momento em que todo o capital não pagava as dívidas. Minha esposa e eu pensamos em largar tudo e fugir. Chegamos inclusive a ver uma área no Piauí para comprar e largar tudo aqui. Era tão ruim que a gente tinha por semana valores absurdos de prejuízo, e quando dá prejuízo você fica sem crédito”, diz. “Eu sempre digo que suíno não come dinheiro. Ele come milho e farelo, que são duas comodities internacionais dolarizadas. Então, na época estávamos sem crédito e o setor estava amargando prejuízos enormes e a gente não sabia o que fazer”, lembra.

Mesmo com o constante pensamento em abandonar tudo, Rambo conta que permaneceu na atividade e tirou aprendizados do período sombrio. “A gente foi desafiado. Um dos pequenos segredos e que ajudou a impulsionar o setor foi que como nunca tinha um apoio intensivo do grupo familiar, nós fomos obrigados a investir muita coisa. Porque se você compra um barracão, ele tem seus custos embutidos, ele é caro. Com isso, no passado, a gente começou a fazer celas parideiras, abrimos uma metalúrgica na propriedade. A gente é meio que polivalente dentro da fazenda”, afirma.

Mesmo sem o apoio dos irmãos, foi na esposa Lisete que Rambo encontrou seu braço direito para os negócios. “Minha esposa é arquiteta e urbanista e eu sou engenheiro agrônomo, ambos profissionais com CREA. Começamos a abrir a metalúrgica interna, fazemos postes, pré-moldados, começamos a construir a granja com pouco recurso. É a minha esposa quem comanda todas as obras, os projetos, tudo o que tem na propriedade é ela quem projetou. Ela é importantíssima para o nosso sucesso”, reitera.

Além da metalúrgica e das granjas, a propriedade conta ainda com uma fábrica de ração própria e biodigestor, onde eles fazem o aproveitamento de todos os dejetos dos suínos.

Setor é desafiador

Rambo comenta que é importante o suinocultor saber que os investimentos no setor devem ser constantes, mas o retorno é lento. “Hoje estamos pegando contas do passado e projetando, ao mesmo tempo, o futuro”, afirma. Ele lembra que a crise provocada pela greve dos caminhoneiros foi algo ímpar. “Tivemos um prejuízo milionário, todo o nosso rebanho no campo deu uma conversão alimentar ruim, faltou comida em média uns 10 dias até normalizar tudo. Levamos meses para pagar a conta desse período”, lembra.

Segundo o suinocultor, o setor exige investimento constante. “Você tem que estar o ano inteiro reformando. E mesmo se for fazer um barracão de ponta, em seis meses tem algo faltando, algo novo que surgiu. Então, é algo desafiador, mas ao mesmo tempo que eu gosto demais”, assume. “Chegamos a conclusão de que é algo difícil. Por isso é preciso trabalhar com amor e entender como funciona o processo do suíno”, aconselha.

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Aline Rosiakdj arwolce

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