5 coisas para saber sobre a safra 2019/2020 de soja
Os preparativos para a próxima safra já começaram e parte da atenção do agronegócio está voltada para o novo ciclo. Decisões que envolvem a comercialização de grãos, a compra de insumos e a tomada de crédito estão ganhando fôlego agora e tendem a se intensificar nos próximos meses. Por isso, o blog separou 5 coisas que você precisa saber sobre a safra 2019/2020.
1. Problemas climáticos nos Estados Unidos
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos publicou nesta terça-feira, dia 28, o relatório com a evolução do plantio, que confirma mais uma vez um atraso. Até agora, 58% da área de milho foi semeada contra 90% da média histórica para o período; no caso da soja, 29% foi plantado contra 66% da média para o período. O excesso de chuva tem prejudicado o avanço dos trabalhos de campo.
Em uma semana, o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), órgão para assuntos sobre meteorologia nos Estados Unidos, confirmou a ocorrência de mais de 200 tornados no país. As chuvas estão acima da média no cinturão agrícola e o plantio de soja e milho atrasado é o mais atrasado da história. Alguns analistas de mercado consideram que agricultores americanos podem deixar de semear a safra 2019/20.
“A primeira possibilidade é essa, de que muitos produtores desistam do plantio. Alguns vão arriscar e outros vão desistir e acionar o recurso disponibilizado pelo governo Trump para cumprir com as suas obrigações. É possível que reduza de 1 a 2 milhões de hectares e qualquer número que vier é altista para o mercado”, afirma o analista de mercado Carlos Cogo, da Carlos Cogo Inteligência de Mercado.
O governo Trump confirmou na semana passada o auxílio de cerca de US$ 16 bilhões para agricultores dos Estados Unidos que somam prejuízos com efeitos da guerra comercial. A medida pode impactar na decisão de plantio da safra 2019/2020.
“O produtor não tem direito a receber auxílio do governo norte-americano se ele não plantar algo. A decisão é complicada para o mercado de soja porque esse auxílio pode acabar influenciando produtores que iriam acionar o seguro no milho e não iriam plantar nada mais. Agora, este produtor pode acionar parte do seguro e ainda assim plantar soja. É uma matemática extremamente complexa, tanto que as estimativas de experts do mercado local variam demais, com gente falando em corte de 1 milhão de hectares e até 3 milhões para mais”, explica Pedro Dejneka, diretor da MD Commodities.
2. Fertilizantes
Preços altos dos fertilizantes e queda das cotações de commodities estão penalizando a relação de troca, de acordo com o último relatório do Rabobank. Estimativas do banco holandês apontam que as cotações da ureia e do MAP recuaram 25% e 17%, respectivamente, em reais, desde seu pico em outubro. Entretanto, a variação em doze meses ainda apresenta elevações próximas de 15% para esses dois produtos e cerca de 40% no caso do potássio.
A baixa demanda de fertilizantes nesse início de ano no mercado internacional e nacional tem forçado seus valores para baixo, principalmente dos nitrogenados e fosfatados. Porém, ainda não o suficiente para melhorar significativamente as relações de troca. As condições de mercado ainda apontam para um excesso de oferta, que deve criar espaço para reduções adicionais de até 10% nos preços dos macronutrientes até meados do segundo trimestre, informa o estudo.
O fosfatado, um dos principais fertilizante da safra de verão de soja também está com atraso de compras por parte dos agricultores, segundo o analista de mercado de fertilizantes da INTL FCStone, Marcelo Mello, que indica fechar a comercialização agora.
“A minha indicação é de compra porque, por um lado, os preços caíram bastante do fosfatado e, por outro lado, se você atrasar as compras mais ainda, possivelmente, vai ter um problema de logística e, eventualmente, até um problema de frete. Vira e mexe nós estamos com um problema de frete. Agora, está subindo a gasolina de novo, o diesel, tudo isso, também por conta do dólar e por conta da situação no Oriente Médio, problema com o Irã e Estados Unidos, está tudo muito tensionado. Então, eu recomendo a compra do fosfatado e do potássio também”, disse Mello.
3. Clima no Brasil
O fenômeno El Niño, que influenciou o desenvolvimento da safra 2018/2019, deverá perder força até o fim do inverno no dia 21 de setembro. De acordo com dados da Somar Meteorologia, a safra 2019/2020 deve começar a ser semeada sob neutralidade climática ainda com viés de anomalia positiva de temperatura. Isso significa que não deverá ter grandes atrasos na estação chuvosa para as principais áreas produtoras de grãos do Centro-Oeste e Sudeste do país.
No Sul, para a safra 2019/2020, a expectativa é de que os agricultores não lidem com muitos transtornos, apenas o fato de que o frio pode se estender um pouco mais e favorecer um desenvolvimento inicial lento dos grãos.
Para as principais áreas de grãos do Matopiba, com o fim do El Niño durante o inverno 2019, a neutralidade climática com viés positivo representa um cenário de chuvas dentro ou até ligeiramente abaixo da média normal para as áreas. A chuva pode atrasar novamente, ou seja, demorar a engrenar nas principais áreas produtoras, mas deverá se tornar mais frequente no alto verão possibilitando o desenvolvimento da safra.
4. Crédito
Assim como o Blog adiantou, o governo sinaliza alta de juros para o Plano Safra. Neste mês, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, voltou a tocar no assunto. “Os grandes têm mais oportunidade e vão ter que pagar um pouquinho mais. Estamos tentando modernizar as ferramentas de crédito utilizando mais CPRs, mais LCAs, e ainda estamos discutindo outros mecanismos com o Banco Central”, disse.
Tereza Cristina garantiu que o Plano Safra não será menor que o do ano passado e afirmou que a pequena e a média agricultura terão mais recursos.
O risco, no momento, é que o anúncio do Plano Safra previsto para 12 de junho seja adiado, isso porque o Congresso precisa aprovar um projeto de lei que autoriza crédito suplementar pedido pelo governo para bancar, por exemplo, os subsídios de cerca de R$ 10 bi para o crédito rural. “A gente precisa até junho senão não teremos esse recurso garantido para fazer a subvenção do nosso recurso do Plano Safra”, afirmou a ministra.
Nesta terça-feira, o relator do projeto , deputado Hildo Rocha (MDB-MA), disse que o prazo de duas semanas até o anúncio do Plano Safra está curto. “Eu acredito que o prazo não vai ser suficiente para votar, não depende do relator. Só não posso fazer o que é responsabilidade do governo”, disse Rocha.
5. Comercialização
Dados parciais da consultoria Safras & Mercado apontam que no mês de maio a venda de soja deve ter avançado cerca de 5%, o que representa mais de 3,5 milhões de toneladas nos últimos dias. O estímulo para a comercialização veio da alta do dólar, prêmios no portos e valorização das commodities na bolsa de Chicago com o atraso do plantio dos EUA. Até fim de abril, cerca de 55% da safra havia sido vendida, o percentual agora está próximo de 60% contra média histórica para o período de 68%.
Ainda neste mês de maio, o dólar atingiu a mais alta cotação do ano e foi a R$ 4,10 (máxima desde 19 de setembro de 2018). No ano, a moeda norte-americana já acumulou ganho superior a 6% frente ao real. Para a safra nova, já há cerca de 10 milhões de toneladas comercializadas de acordo com a Safras&Mercado, volume dentro da média para o período.