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A arte de contemplar o belo

É preciso redescobrir a arte de saber parar tudo perder tempo e contemplar.
08/04/2019 Fonte: Gerson Schmidt / Padre e Jornalista
Padre Gerson Schmidt
Padre Gerson Schmidt

Nossa vida é feita de rotina, de pressa e de falta de admiração e contemplação. Perdemos o essencial na vida, invisível aos olhos (Saint Exupery, no livro “O pequeno Príncipe”), pela pressa de chegar, de realizar, de fazer acontecer. Estamos sempre atrasados em nossa neurose, parecendo que alguém vai morrer porque não chego. Perdeu-se o jeito de contemplar aos coisas mais simples, mais corriqueiras, mais genuinamente belas e pequeninas, mas incrivelmente grandes. 

A palavra "contemplação" vem do latim cum + templare, que é colocar-se dentro do templo, numa situação de envolvimento e admiração. Projeta-se no templo a descoberta (o descobertar) da vontade de Deus. A palavra latina templum é “lugar donde a vista se descortina ao redor, espaço marcado no ar em que os agoureiros observavam o voo das aves” ou ainda “o santuário do pensamento”. Contemplar é um olhar atento que descobre Deus na presença de suas ações e de suas obras. Segundo Frei José Carlos Pedroso, contemplar, ao pé da letra, não é orar (de os, oris = boca), nem rezar (de recitare: ler alto ou repetir um texto escrito), mas é um relacionamento excelente com Deus, a quem nós ficamos observando, descobrindo, saboreando a vida genuinamente de sinais, feita de rito e gestos. A própria palavra descobrir é entendida como “tirar a coberta” e desvelar como “tirar o véu”. 

Um verdadeiro contemplador seria um “observador de voo”, um perceptível interpretador dos movimentos e acontecimentos num olhar clínico da realidade. É observador, não deixando passar em branco os detalhes de Deus em sua vida. Podemos fazer exercícios de contemplação. Contemplar, sobretudo, é ver Deus nos seres e nos acontecimentos, pois Deus fala na história, em cada situação concreta.  Santa Clara e São Francisco foram grandes santos contemplativos da humanidade, que viam Deus em todas as criaturas, que chamavam de irmão e irmã. Até o lobo é chamado de “irmão lobo”, juntamente com o sol e com a lua, trazendo o dia pela mão. Sabiam contemplar o belo, o corriqueiro, no ordinário da vida. Fascinante recordar Madre Teresa de Calcutá: “A contemplação não ocorre por nos fecharmos num quarto obscuro, mas por permitirmos a Jesus que viva a Sua Paixão, o Seu amor, a Sua humildade em nós, que reze conosco, que esteja conosco e que santifique através de nós. A nossa vida e a nossa contemplação são unas. Não é uma questão de fazer, mas de ser”. 

É preciso parar o bonde, que está andando! Como cantou Raul Seixas: “Pare o mundo, que eu quero descer”. É preciso redescobrir a arte de saber parar tudo perder tempo e contemplar. 




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