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Marcos importantes do desenvolvimento da linguagem

Linguagem é aquela função do cérebro super importante, que permeia todas as áreas de nossas vidas e que se sustenta, por um lado, por uma estrutura anatomofuncional, geneticamente determinada.
04/09/2020 Janaíne Kornalewski
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O que são marcos do desenvolvimento? Podemos dizer, de forma simples, que são aquisições esperadas em uma determinada idade, no desenvolvimento típico (ou seja, desenvolvimento sem dificuldades ou alterações) das crianças. E linguagem? Linguagem é aquela função do cérebro super importante, que permeia todas as áreas de nossas vidas e que se sustenta, por um lado, por uma estrutura anatomofuncional, geneticamente determinada; e, por outro, na contínua interação com o ambiente social.

É já na vida intrauterina que ocorre o primeiro marco no desenvolvimento da linguagem: com 24 semanas, a cóclea (parte da orelha interna) passa a ser funcionante e o feto pode ouvir o que ocorre no exterior. Isso quer dizer que, o feto não compreende o que é falado, mas já reconhece os sons familiares. A primeira forma de verificar se o desenvolvimento da audição (e da linguagem) começou bem, é a realização do teste da orelhinha, que é obrigatório, gratuito e garantido por lei no Brasil, devendo ser feito ainda na maternidade.

Aos 3 meses, é possível observar a produção de vogais e sons articulados. Até os 5 meses esses sons são repetitivos (/aaaa/, /oooo/, /ppppp/...) e, a partir dos 6 meses, os bebês começam a produzir balbucios com sílabas bem formadas e variadas (/bada/, /padadama/...). Em um primeiro momento, o balbucio é fisiológico; porém, por volta dos 6/ 7 meses, passa a ter o formato de feedback, sendo que os bebês têm de ouvir a linguagem de pessoas reais para aprender essa habilidade. A televisão não faz isso e, tampouco, vídeos educativos. A falta de balbucios é fator de risco para alterações na linguagem.

Entre 8 e 10 meses, surge a comunicação intencional, que são os contatos oculares, os gestos, as vocalizações AGUARDANDO UMA RESPOSTA. Primeiro surgem os pedidos, na sequência aparecem as ações para chamar a atenção para si, e, aos 12 meses, os bebês devem compartilhar seu foco de interesse com o outro (mostrar um objeto ou ação). A ausência ou defasagem destes comportamentos são sinalizadores de risco para TEA (transtorno do espectro do autismo), devendo, o bebê, já ser acompanhado, mesmo sem ter completado 12 meses.

Quem leu até aqui, já percebeu que o desenvolvimento da linguagem começa muito antes das primeiras palavras, contudo o aparecimento delas é um marco extraordinário e muito esperado pelos pais. É entre 12 e 18 meses de vida que o vocabulário elementar infantil começa a se constituir dia a dia, surgindo as primeiras palavras. Essas primeiras palavras são adquiridas numa velocidade relativamente lenta: de uma a três palavras por semana. Quando a criança chega ao marco de 20 ou 40 palavras, há uma espécie de explosão do vocabulário, em que a velocidade acelera e a criança pode, em uma semana, adquirir 8 palavras novas. 

Crianças com 2 anos precisam ter, no mínimo, 50 palavras e podem chegar a 200. Repertório inferior a 50 vocábulos já denota atraso, devendo o fonoaudiólogo investigar a causa e determinar uma conduta. Quase que concomitantemente ao aparecimento das primeiras palavras, surgem as primeiras frases, constituídas, em um primeiro momento, por duas palavras, como: /nenê mimi/ (o nenê quer dormir) ou /mama bo/ (o mama acabou). As estruturas frasais devem ir se tornando cada vez mais desenvolvidas e complexas, sendo um marco importante do desenvolvimento da linguagem aos 3 anos.

Crianças antes dos 3 anos podem ter uma fala compreendida somente por seus cuidadores, na medida em que podem apresentar simplificações que comprometem bastante a inteligibilidade da fala. Após os 2 anos e meio (ou no mais tardar 3 anos) essas simplificações devem desaparecer e a clareza de fala evoluir, tanto que, aos 3 anos, as crianças devem ser compreendidas por estranhos, mesmo que ainda haja substituições e omissões de determinados fonemas.  

Aos 4 anos, o contar histórias e fatos, com começo, meio e fim devem estar presentes. Com 5 anos, espera-se que a criança tenha o desenvolvimento da metalinguagem, que é a habilidade de “pensar sobre os sons”, sendo capazes, por exemplo, de identificar palavras que iniciem ou terminem pelo mesmo som. Ao entrar no 1º ano do ensino fundamental, espera-se que crianças brasileiras com 6 anos tenham seu sistema fonológico organizado, ou seja, que sejam capazes de falar corretamente todos os fonemas (sons) do português brasileiro, incluindo a produção de grupos consonantais (/PRato/; /BRaço/) e consoantes em final de sílaba (/paSta/; /poRta/).

Conhecer os principais marcos do desenvolvimento da linguagem, baseados em estudos e comprovações científicas, é essencial para saber o que esperar do desenvolvimento de nossas crianças, quer sejamos pais, quer sejamos professores, educadores do ensino infantil, cuidadores, tios, dindos ... assim temos condições de não exigirmos o que não é esperado para determinada idade, sem querermos pular etapas, e sim darmos atenção as habilidades necessárias para cada faixa etária, visto a linguagem poder ser moldada pelo ambiente social (o que inclui as estimulações adequadas). Assim, sempre que perceber alguma dificuldade, atraso ou tiver dúvida, consulte um especialista da área que possa lhe ajudar. Importante lembrar que existem, no início da vida, momentos ótimos de desenvolvimento que não devem ser negligenciados, por isso a intervenção precoce.

O que você achou dessa matéria? Quais são os assuntos que gostaria de ler por aqui? Conte-me e quem sabe não será o conteúdo da próxima quinzena... Abraços, Janaíne Kornalewski.


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